MAIS DE 20 ANOS DA LEI 10.639 – Será que o Brasil, aprendeu alguma coisa?

O relógio desperta. O Brasil se espreguiça, boceja, olha para o espelho e… não se reconhece.
O reflexo é um borrão de histórias mal contadas, memórias apagadas e nomes esquecidos.
Lá se vão mais de vinte anos desde que a Lei 10.639 ergueu sua voz, soprando um vento quente sobre as páginas dos livros escolares. “Ensinem sobre a África”, ela pediu. “Ensinem sobre Zumbi, Carukango, Carolina Maria de Jesus, Dandara e Luís Gama. Contem a história inteira.”
Mas o tempo passou, e a lei, coitada, segue como um baobá recém-plantado em solo árido, forte e resistente, mas cercado por um país que nem sempre rega suas raízes.
Porque ensinar História da África e Cultura Afro-brasileira não deveria ser um favor, um rodapé no currículo, uma concessão. Deveria ser como o tambor: pulsante, presente, inegociável.
Mas aí surgem os fantasmas do passado, sussurrando desculpas velhas e mofadas:
— Ah, mas racismo no Brasil nem existe mais!
— Escravidão? Foi há muito tempo, supera!
— Educação é neutra, pra que isso?
Neutra pra quem? Neutra como?
Neutro é o que não pulsa. E o Brasil pulsa, mesmo quando tenta se fazer de surdo.
O resultado? Crianças negras crescendo sem ver seus rostos refletidos nos livros. Adolescentes sem saber que a matemática africana existia antes de Pitágoras. Adultos sem entender que o samba, o blues e o jazz não surgiram do nada, mas do choro contido de um povo que transformou corrente em melodia.
A Lei 10.639 tenta dançar no salão da educação, mas ainda pisa em um chão escorregadio. O Brasil gosta do ritmo negro, mas reluta em aprender seus passos.
Mas, ah, há quem dance!
O Conexão Mulher Internacional borda histórias de força e resiliência, conectando mulheres como fios de um grande tecido ancestral. Elas falam de identidade, de transformação, de um futuro onde cada menina preta possa se olhar no espelho e se ver inteira.
E o 3º Festival Baobá – Projeto Imbondeiro? Ah, esse é o vento quente que espalha sementes de consciência. Nos tambores, na poesia, na arte, o festival nos lembra que somos raízes e galhos, somos pretérito e futuro, somos os sonhos que nossos ancestrais tiveram coragem de sonhar.
Porque se a Lei 10.639 ainda engatinha, a Consciência Negra já dança, já corre, já voa.
E cedo ou tarde, a História – que não é neutra, nem muda – cobrará a fatura.
O Brasil está aprendendo? Talvez.
Mas uma coisa é certa: o nosso baobá segue crescendo e suas raízes este ano chegarão a África!
Gilson Souza – Professor e Psicanalista
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